sábado, 15 de janeiro de 2011

Passada a fase do Leão...


Sabe Nietzsche?
Aquele alemão bigodudo? "Que é bom? - ser bravo."?
Então. Ele narra no seu livro para todos e para ninguém, as três metamorfoses.
Não vou entrar em detalhes mas é assim: passei da fase do Leão. Muito tempo pensando, digerindo o que aconteceu... fiquei mais calmo.
Talvez agora meus posts sejam mais calmos também, estou na fase da criança.
Mas isso não quer dizer que deixei de ter pensamentos ácidos, queridos.
Continuo achando a religião uma perda de tempo tremenda. Mas não concordo em tudo com Sir Dawkins e Sir Hitchens. E vou dizer porque daqui algum tempo.
No momento quero dizer pra aquelas poucas almas que leram meu blog (e gostaram) que não quero abandoná-lo.Estou num momento de organização de idéias apenas.
Fiquem espertos pros próximos posts.
E não esqueçam: Deus continua morto.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

I have a fucking dream too.

Vida de ateu não é fácil. É até foda. Não ter ninguém pra pedir coisas, tipo ganhar na loteria, não ter nenhum amigo invisível pra se apoiar nas horas difíceis...essas coisas.
Eu sonhei com um mundo sem religião, como um dos Beatles também imaginou, sabe?
Um mundo com doidos se explodindo por que queriam se explodir, não por causa de “um bem maior”. Um mundo onde ninguém diz que Deus só vai honrar seus pedidos se você honrar o pastor com 10% do seu salário e aquelas ofertinhas de fé.
Se Deus existisse isso seria algo pra se pedir.

Aí eu acordei, liguei a TV e vi uma mulher dizendo que fazia sexo com o Diabo, num programa desses onde se toma um copo de água no final pra ajudar a engolir as merdas que se falam nesses programas.

Caí na real: quando eu estiver na minha hora final, perto do fim do abismo, eu não vou ter a paz no coração de saber que o mundo está livre da superstição. E mesmo assim vou ter quer dormir com essa.

Fui ler meus gregos e me sentei com o Obscuro. E o Obscuro (bem ele) me clareou as ideias.

Nos jornais da semana passada se falou muito de um momento histórico: EUA e Rússia assinaram acordos de reduzir mutuamente seus arsenais nucleares. Não dá pra fazer como o Super-Homem fez em um dos seus filmes – jogar todas as ogivas do planeta contra o Sol e acabar com a ameaça da guerra nuclear num estalo.

Mas dá pra fazer como os dois países fizeram: equiparar as forças.

Por mais que a vontade que os ateus e pessoas racionais tenham de tornar crime dizer por aí que Deus está nos vigiando e que, se o que Ele quer não for feito as pessoas vão ver a própria carne derretendo em dor e ranger de dentes pela eternidade – não vai acontecer tão cedo. (mas tá quase lá, já proibiram véus muçulmanos e crucifixos em escolas na Inglaterra, em breve a marca da besta “Ateu: garanta já a sua!”)

O segredo está em buscar o equilíbrio. Ateus e teístas em número e manifestações equivalentes. Que sonho hein? Aqueles que pensam deixarem de ser minoria, só pra variar.
Claro que com a educação no país sofrível, os teístas se expandem mais.
Existem muitos heróis nessa frente da batalha, professores e estudantes que brigam por uma educação melhor, mesmo com o descaso intencional do nosso governo – fica difícil ser populista num país com maioria pensante.
Acho que já é tempo de começar algo como uma manifestação massiva e agressiva, tentando espalhar um pouco de razão por aí.

Guerra declarada e ateus com postura blasé??
“Escreva um livro, oras.”
“Deus não existe. Que as pessoas acreditem no que elas quiserem.”
“O livre pensamento dificulta a reunião de pessoas por qualquer causa.”
Ouvi essas palavras de ateus brasileiros.
Considero isso parte egoísmo, parte passividade.

Por que não ouço nada sobre “Ativismo Ateísta”?
Onde nós estamos? Em bibliotecas, jantarezinhos, barezinhos, fóruns na internet?
FAZENDO O QUÊ, PORRA?!
CONVENCENDO OUTROS ATEUS A NÃO ACREDITAR EM DEUS????
PERGUNTANDO UNS PROS OUTROS QUAL FOI O AUTOR QUE NOS FEZ CÉTICOS???
Os crentes estão lá fora: gritando mentiras, convencendo as pessoas a darem seus salários para pequenos impérios construídos sob o lixo da superstição. Batendo na porta das nossas casas, doutrinando crianças, instituindo o não entendimento, promovendo eventos de milhares, gritando histericamente na TV.

Enquanto isso estamos aqui, murmurando baixinho, trocando esse segredo entre nós mesmos.

NÓS DEVERÍAMOS ESTAR GRITANDO NOSSAS LOUCURAS TAMBÉM!

Tá, desculpe o tom. Mas é isso.
Equiparar forças, jamais vamos afogar aquelas vozes mentirosas de uma vez.

O Obscuro que citei é Heráclito.
Pra ele, harmonia não é quando um lado suprime o outro, nem o fim de conflito, é uma tensão onde nenhum dos elementos jamais chega a vencer definitivamente.
Pra mim é difícil concordar quando ele diz que ambos os lados de um conflito são indispensáveis.
“Eles não entendem como aquilo que está variando consigo mesmo, concorda consigo mesmo. Daí resulta a afinação de tensões opostas, como a do arco e da harpa.”(45)
“A luta é a justiça.”(62)

Se eles são loucos e gritam, temos que gritar junto – e nessa baixaria barulhenta, termos vozes iguais. (mesmo que ninguém entenda porra nenhuma)



[os números entre parêntesis indicam os fragmentos dos textos de Heráclito, segundo a numeração de Bywater]

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Macumba Evangélica

A oração sempre foi a forma com que as pessoas tentavam uma comunicação com o desconhecido.
Sua origem primitiva veio da prática de cerimônias de purificação, onde se sacrificavam animais e, circundando o purificado, tentavam afastar os maus espíritos. A prece ou a oração eram encantamentos mágicos, a própria palavra latina para prece, carmen, significa ao mesmo tempo “canto” e “encanto”. Ou seja, uma forma verbal de magia. Se a carmen era recitada corretamente ao seu deus correspondente, de acordo com o ritual escrito, sempre guardado pelos sacerdotes, o deus atendia ao pedido. Se o deus ignorasse o encantamento, a culpa era de quem não o recitou certo.


Séculos e séculos depois, nós vemos que esses encantamentos mágicos ganharam milhares de formas e refinamentos. E a religião não é mais do que isso mesmo: uma pilha de superstições refinadas.
Mas em algumas igrejas evangélicas, os pedidos a Deus tomam características do lado negro da força. Sim, o lado de lá, o de “baixo”. (Na própria visão deles, claro).
Quando os protestantes começaram a se manifestar, rachando a Igreja em vários pedaços, eles eram da opinião de que Deus e seus profetas, jamais permitiriam santos, rituais, tanta ostentação ou tantas semelhanças com o mitraísmo. A fé era Deus e a Bíblia.
E de fato, não existe rituais protestantes além do batismo, da eucaristia (aquele do pão e vinho) e do casamento.
Por algum motivo quase obscuro, muitos rituais foram sendo agregados ao culto evangélico.
Jesus nunca instituiu o “Lava Pés”, que apesar de ser meio coisa do servilismo oriental é até bonitinho.
O que realmente chama a atenção são os rituais que se assemelham com os ritos afro-religiosos, que os crentes tanto demonizam.

Um pastor anuncia que vai jogar o “Sal Grosso de Israel” pelo corredor, e que quando você passar sobre ele...enfim seus desejos vão se realizar.
Outro pastor chama o empresário com a corda no pescoço pra receber a “Unção com o Óleo da Riqueza”, entre outras bizarrices como “Venha tocar no Manto Energizado”(energizado por quem?), “Venha tocar no Manto da Fé”, “Venha passar pelo Túmulo de Jesus”(?), “Traga um pão para ser jogado nas águas do Poder”, “Coloque seu nome no Livro de Ouro da Vida”, “Traga suas contas atrasadas para amarrar na boca do Sapo Ungido de Deus” ...putz.
Será que o público alvo da Universal gosta de bater um tambor?





Mas uma das mais baixas formas de oração entre os evangélicos é com certeza a “ORAÇÃO VUDU” também conhecida como a “ORAÇÃO MAGIA NEGRA”.
Sei que poucos as conhecem, é normal, eu só fiquei sabendo porque fui alvo delas.
Pois é, este que vos escreve já esteve entre eles, já fui crente. E justamente por não ser um crente exemplar é que numa determinada situação da minha vida eu fui “convidado a me retirar” de uma igreja. Eu e minha família.
Me chamaram de bruxo porque eu gostava de vestir preto, jogar RPG e ler Poe, imaginem!


Como não sai da congregação completamente sem amigos, alguns me confidenciaram que houveram orações em que membros e até pastores da igreja, em volta de uma fogueira, queimaram o meu nome e de meus familiares nela. Os pedidos pra Deus eram os seguintes: Que meu pai tivesse câncer, que minha irmã morresse de complicações respiratórias (ela tinha 2 anos de idade) e que eu me tornasse homossexual.

Deus cagou na cabeça de todos eles. Minha família está bem, minha irmã é uma linda moça de 16 anos e eu não me tornei homossexual (mas foi por pouco, passei raspando(até hoje não consigo ouvir “Dancing Queen” sem ver uma chuva de papel picado prateado caindo sobre uma pista explodindo em mil cores, mas sigo hétero)).

Estranho? Maligno? Satânico? Não, ignorância mesmo. Eles não sabiam que eu tinha um campo de força sagrado e invisível que eu ganhei de um mago branco pra me proteger. Quem é bruxo, sabe das coisas, oras.

Teriam me prejudicado mais se quebrassem uma janela de casa.

Cara, tudo bem. Você olha pra cima e fala com Deus, tudo bem. Toque no cajado do pastor, queime o nome no fogueira, amarre na boca do sapo ungido, acenda aquela sua vela no pé da santinha ou na encruzilhada...tudo bem, a seleção natural aceita uma ou outra coisinha dispensável.
Agora, esperar que alguém te responda ou que alguma coisa mude, sandice.
Saravá meu pai.


"Tem ouvido essa menina?"- tem sim, missionário.
O que ela não tem é orelha, ou o ouvido externo, seu missionário.

Enquanto isso, ao pé do Monte Sinai...

1 Balalaquias 31.1;12 (dos fragmentos encontrados no Mediterrâneo)

31 Balalaquias – Olá Zelofeade, filho de Esã, aqui está uma perna de cordeiro assado como mo pediram para trazer neste lugar.
Zelofeade – Como estava receoso que não enviassem o assado, Balalaquias!
Balalaquias – Ei-lo, Zelofeade. É grande tua fome?
Zelofeade – Grande é minha fome, ó filho de Ruach-Chachim.

Balalaquias – Mas, diga-me varão, que fazes tu entre estas pedras do Sinai?
Zelofeade – Vigio, Balalaquias, vigio conforme a palavra do Senhor.
Balalaquias - Falaste com o Deus de nosso pai Abraão, Zelofeade?!
Zelofeade – Não estavas aqui anteontem, varão?


2 Balalaquias – Nem te conto, ó filho de Esã... eis que uma moabita subiu do deserto e eu a chamei para uma tenda que montei longe do arraial dos filhos de Israel para conhecê-la... os dois peitos dela eram tão belos quanto um par de gazelas a correr pelos campos de trigo no entar...
Zelofeade – Balalaquias!! Não ouviste que o Senhor que nos tirou do Egito falou com Moisés para que o povo lavasse suas vestes por que vem ao monte?
Balalaquias – Lavar... não.
Zelofeade – Escuta então, o nosso Senhor chamou a Moisés dizendo: “Eis que virei numa nuvem espessa e chamarei a tu Moisés para que subas e fale comigo” assim disse mais ou menos o Senhor, se me lembro.

3 Balalaquias – Que embaraço o meu, não sabia destas palavras.
Zelofeade – Disse também para não se chegar a mulheres neste dia. Tu bem que violastes esta palavra com a moabita do deserto.
Balalaquias – O Senhor falou para não “se chegar”.
Zelofeade – E tu, que fizeste?
Balalaquias – Entrei com tudo hahahahahah!!
Zelofeade – Hahahahahhahaha...!, fala a mim a verdade Balalaquias, não te sentes mal? Não achas que vai morrer por ter penetrado as entranhas da moabita?
Balalaquias – Não. Acho que estou mais vivo que tu.
Zelofeade – Ah, filho de Ruach-Chachim, minhas pernas doem.

4 Balalaquias – Mo diga, a que tu vigias então?
Zelofeade – Sim, vigio o monte a três dias e três noites para que ninguém, desavisado como tu o toques e pereça.
Balalaquias – Vigias o monte? Tornar-se-ão de ouro estas pedras aqui?
Zelofeade – Esqueço de te dizer o mais importante! O próprio Senhor está agora a conversar com Moisés e Arão!! No alto do monte!

5 Balalaquias – Eia! Que novidade! Subamos, Zelofeade, subamos! Passa para trás de mim!! Vamos perguntar ao
Senhor por que prospera o mau!!
Zelofeade – Detenha-te Balalaquias, és primo meu de segundo grau e considero-te, não quero que pereça!
Balalaquias – Por que pereceria eu?
Zelofeade – Pois todo aquele que no monte tocar, perecerá – assim disse o Senhor!
Balalaquias – Zelofeade, não estás a pisar no monte agora?
Zelofeade – Ahm, penso que não.
Balalaquias – Como determinou Moisés onde começa e onde termina o monte?

6 Zelofeade – Não sei, Balalaquias.

7 Balalaquias – Se tu soubesses calcular áreas como no Egito me ensinaram, saberias que estás a pisar no monte, e não pereceu.
Zelofeade – Falas a verdade, Balalaquias?
Balalaquias – Falo... Zelofeade, daí ouvidos à minha voz: conheci a moabita, não lavei minhas vestes, pisamos no monte...todas estas cousas temos praticado e não perecemos. Que mais será de inverdade que Moisés ao povo contou?
Zelofeade – Balalaquias, sempre te adverti para não ficar de conversas com os escribas...

8 Balalaquias – Mal sabes o que aprendi naquela viagem com os fenícios...
Zelofeade – Os fenícios! Voltaste com aquela serva de cintura fina, daquela terra de 90 cidades, qual era o nome da terra...?
Balalaquias – Creta, não me esqueço da dança com os touros...
Zelofeade – Eis tu aí em minha frente falando em mentiras de Moisés e rejubila-te lembrando de diversões pagãs! Que faremos pois?
Balalaquias – Faremos?
Zelofeade – Sim, tu me deixas inquieto de dúvidas e não faremos nada?

9 Balalaquias – Zelofeade, se alguma cousa fizermos e por fim descobrimos que Moisés e Arão estão a jogar sortes e a beber o forte vinho e que não há Deus no meio deles... certamente morreremos.
Zelofeade – Apavora-me com estas palavras primo meu.

10 Balalaquias – A mim também. Prostrar-se-ão muitas mãos sobre nós e nos apedrejarão com pedras... mas se tu comigo vier, há uma caravana que vai para Zoã. De lá podemos ir com os fenícios para uma linda praia em Panormos!
Zelofeade – Mas o Senhor nosso Deus está preparando para nós leis que nos fará nação forte...abandonaremos ao Senhor e ao povo?
Balalaquias – Ouví-me filho de Esã, se Moisés descer do monte com leis para que o povo obedeça, não será ele o primeiro a fazer isso...
Zelofeade – Não será?

11 Balalaquias – Não, Zelofeade. Não ouvias tu as lendas no Egito, do Grande Faraó Menes que ao povo trouxe a lei entregue pelo Deus Toth? Também não ouvi eu, que na grande ilha de Creta, Minos recebeu do Deus Velcanos o “Livro da Lei” no cume do monte Dicta? E na distante terra dos ricos babilônios, Hamurabi não recebeu muitas leis para o povo, do Deus Shamash? E não foi do Deus Kyron...
Zelofeade – Basta Balalaquias, Basta!! Acredito em tua sabedoria, estiveste em mais terras que eu... mas como meu coração se esquecerá da promessa do Senhor?
Balalaquias – Zelofeade, já disse eu que as mulheres da ilha de Creta, casadas, virgens, viúvas, todas elas...andam de peitos nus?

12 Zelofeade – Maldito sejas, Balalaquias! Leva-me para esta caravana agora!!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Cachorro Morto

Você conhece a expressão “chutar cachorro morto”.
Já visualizou essa cena? Alguém chutando um cachorro morto?
Feio demais. Nada heróico.
Chutar um Pitt-bull é outra coisa. Aquele bicho furioso, babando, te mostrando os dentes. Dá até um frio na barriga.
Partir pra cima desse monstro requer muito culhão.
Leio diariamente artigos, livros, matérias e vejo palestras sobre religião. Ataques da razão, da ciência.
Tem vezes que eu me pergunto se isso não é chutar cachorro morto. E tem vezes que eu me pergunto se essa piedade não é um resquício de cristianismo em mim.
Eurípedes bradava pela boca de seus atores que “os deuses não existem”.
Sócrates ensinava que os deuses somos nós mesmos.
Platão dizia que a fé estava morta.
Empédocles já falava em evolucionismo em 460ac.
Anaxágoras deixava qualquer sacerdote puto com suas explicações lógicas.
Diógenes perguntava aos clérigos por que eles não se matavam, já que o céu era tão bom.
Um pouco mais à frente no tempo temos alguns Voltaires, Schopenhauers, Nietzsches... Sem falar dos Daniel Dennets, Karen Armstrongs e Richard Dawkins.
Na minha frase favorita sobre o tema, um Fernando Pessoa disse que a fé podia ser derrubada por um “golpe de raciocínio”.
Me parece (às vezes) que não necessitamos de tanto esforço pra vencer algo já vencido a tanto tempo.
Na época que a religião era um Pitt-bull, uns poucos corajosos meteram-lhe umas bicas, e acabaram pendurados em postes, apedrejados e queimados vivos.
Mas hoje esse cão bravo pode pouco. Ninguém mais morre gritando entre chamas por dizer que é uma estupidez terrível acreditar em Deus.
É aí que eu penso melhor e vejo que esse cão pode pouco, mas ainda pode.
É só você ligar a TV à tarde, noite, de madrugada... Brincar de quantas igrejas evangélicas tem no caminho do trabalho ou da padaria. Ver os atentados no Oriente Médio. Ler notícias sobre transferências milionárias das contas de pastores. Descobrir que filhas de pais judeus ainda sofrem mutilações nas genitálias.
Foda.
Da raiva de ver o papa visitando a África e dizendo que usar camisinha é pecado. Ele não faz nada de errado, tá seguindo o protocolo católico. O problema mesmo é que na África as pessoas ainda morrem aos milhares de AIDS e ainda acham que se livram do vírus tomando um banho.
Na África também, os pais assassinam ou abandonam os filhos porque os pastores de lá dizem que algumas crianças são bruxas.
Aqui no Brasil uma menina que fez aborto e os médicos que a operaram foram excomungados pela Igreja. Não adiantou dizer que ela engravidou porque foi estuprada pelo padrasto e que nem todos os médicos eram católicos: todos condenados ao Inferno.
Esse cachorro não está morto, me convenço.
Uma vez tomei uma mordida de uma pastor alemão numa delegacia. Os policias me socorreram e tocaram ela dali. Me disseram que por muitos anos ela rasgou a carne de bandidos, mas que agora, velha e cansada, ainda sonhava em cravar os dentes nos outros. Instintos intactos. Menos seus dentes.
Tomei apenas a pancada da mordida de uma cachorra desdentada.
Fiquei olhando ela ali no cantinho dela, quieta, de cabeça baixa... Só esperando passar o próximo otário.
Considerei minha sorte.
Se ela tivesse dentes, eu teria que passar parte do dia no hospital tomando injeções e sendo costurado.
Igualmente, se eles padres, rabinos, pastores pudessem... Eu estaria amarrado numa fogueira por essa analogia.
Mesmo desdentada, ainda mordia forte. Ai se tivesse dentes.
Não é heróico como em outros tempos, mas devemos chutar, chutar forte, até eles caírem. Golpes de raciocínio.
Pra que a ciência voe como um míssil, pra que os nossos filhos cresçam sem os temores dos nossos avós, pra que mulher nenhuma seja apedrejada em lugar algum no mundo, pra que as pessoas sejam livres pra pensar, agir, falar, questionar.
Pra viver sem medo. Sem medo da verdade.
Sem medo de um cachorro velho.

Política e Religião (eles estão de volta)

Sutileza é uma palavra que poucos gregos conheciam, dada a intensidade com que viviam. Tinham que colocar bem na entrada do templo de Delfos, em caps lock a frase: “MEDEN AGAN” (Nada em excesso).
Quem pretendia governar os gregos, tinha lá sempre um sábio por perto pra colocar algum juízo na cabeça do mestre.


Mas esse não era o caso de um dos maiores caras de pau da História, o aspirante a ditador Pisístrato.
No relato de Heródoto, podemos aprender muito sobre quão longe nossos governos podem ir para manter o controle sobre o que pensamos, o que fazemos ou quem queremos no poder.
Pisístrato era tudo o que os atenienses não queriam, o sucessor do justo Sólon era um ditador de poucos escrúpulos. Foi deposto do poder e não admitiu isso. Planejou o seu retorno triunfal.

Começa um burburinho nos portões da cidade, as pessoas se movimentam pra ver quem chega. É uma visão embasbacante: arautos cantam e clamam pra que o povo saia de suas casas. Entrando na cidade, um carro reluzente puxado por cavalos brancos, e cercado por muitos soldados está uma jovem linda, alta, de loiros cabelos, de olhar austero, armadura de ouro, lança e capacete...calma, essa só pode ser... a deusa Atena!! E a deusa está abrindo caminho para aquele Pisístrato, que acena do seu carro para o povo! Peraí, a divindade protetora da cidade está recolocando o ditador no poder??

O que Pisístrato fez foi uma jogada que o governo brasileiro está tentando copiar.
Recentemente a Igreja Católica fechou acordo com o governo para que as escolas públicas voltem a ter o ensino religioso.
Como nos velhos tempos...Estado e Igreja, juntos.
O que eles querem com isso?
Emburrecer e doutrinar nossos filhos. Deixá-los prontos a aceitar tudo que o governo nos empurra na cara. Há um aumento da religiosidade entre as pessoas, e o nosso governo está bem atento a isso.

Com o vírus da religião instalado na cabeça do povo, os absurdos cometidos pelo governo são relevados. Nas palavras de Pedro:
“Pelo amor do mestre submetei-vos a todas as autoridades humanas... Como homens livres, não façais da vossa liberdade uma escusa para a malfeitoria... Como escravos, sede submissos aos vossos amos, e perfeitamente respeitosos, não somente para os bons e moderados como também para os perversos”
( 2 Pedro 2:13-16-18)

O meme “Deus” é muito poderoso....o histórico é conhecido. As maiores idiotices são justificadas pela fé. Um exemplo excelente pro caso pode ser a “Cruzada das Crianças”, crentes que só a inocência e a pureza das crianças poderia livrar Jerusalém das mãos dos muçulmanos, milhares de pais colocaram seus filhos em marcha de todos os cantos da Europa até a Terra Santa... O resultado dessa brilhante estratégia? Das milhares de crianças que não morreram de fome, frio, disenteria, centenas foram roubadas e vendidas como escravas. Revelação divina, oras.

Não achem que só na Idade Média as pessoas eram estúpidas o suficiente para dar uma dessas. Hoje a estupidez também é assustadora. Igrejas Evangélicas descaradamente desaconselham pessoas buscarem cura para suas doenças com médicos. E essas igrejas só crescem.
Temos falado pouco de ciência, de evidência ou de História? Sim temos.

A maioria das pessoas que você possa trombar na rua não faz idéia de como chegamos a ser o que somos. Poucos sabem que saímos de cavernas, de que quando começamos a fazer perguntas sobre o que estava a nossa volta, surgiram espertalhões de todos os lados falando asneiras que se acredita até hoje. Poucos sabem que em quase todas as culturas existem caras que subiram em montanhas, “falaram” com um “Deus” e voltaram com leis animalescas. Poucos sabem que quase em todas as culturas também existiram caras que nasceram de virgens, morreram e ressuscitaram, depois foram pro céu. Poucos sabem como o Big Bang se desenvolveu até formar galáxias como a nossa.

Se o nosso Estado se propusesse a ensinar essas coisas, esses “segredos”, já seria um bom começo. Mas eles preferem mistificar. Mistificar é mais fácil: “não fale mal do seu prefeito, você pode ir pro Inferno.”
Greve, paralisação, impeachment, democracia, revolta...daqui a algum tempo, serão palavras do Índex do governo brasileiro?

“O povo de Atenas, inteiramente convicto de que a mulher era realmente a deusa, prostrou-se a seus pés, aceitando de volta Pisístrato” (Heródoto – I, 60 Athenaeus XIII, 89)

Os atenienses, safos que eram, logo entederam a piada, depuseram e exilaram Pisístrato. Mas ele voltou ao poder.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tempos estranhos

Parece que algo está acontecendo. Não sei se é a expressão mais adequada, mas “paranóia conspiratória” passa perto do que penso. Sem toda aquela afetação nerd ou religiosa do termo, mas passa perto.
As pessoas não pensam, não lêem, não questionam. Aceitam tudo que lhes é imposto.
As igrejas crescem, propagam suas doutrinas absurdas e emburrecedoras, pastores fazem propaganda de TV a cabo e Calvin Klein e desaconselham suas ovelhas a procurarem médicos a fim de que suas curas sejam divinas. Onde isso pode ser mais ofensivo a sua inteligência? A Igreja Católica quer voltar a corromper nossas crianças nas escolas, com o consentimento do governo.
E o governo, quando não é omisso, é corrupto. Fazem do cinema uma grande propaganda eleitoral, querem impedir nossa liberdade de expressão, aumentam os próprios salários durante a madrugada.
A violência estoura nas nossas esquinas, mas uma reforma educacional parece longe da realidade. Armas são mais lucrativas do que livros afinal. Catástrofes, tempestades, enchentes, deslizamentos de terra em curso e eles cortam a verba para que seria para amenizar os sofrimentos dessas pessoas.
ONGs do bem cantam aos quatro cantos que no gráfico deles a temperatura do mundo está subindo enquanto especialistas com mais do que alguns gráficos provam o contrário. E as corporações que hoje poluem, vão posar de mocinhos daqui uns anos.
Paranóia? Pode até ser. Prefiro me manter atento. Estou cansado do silêncio.
Não pra gritar nas ruas EU AVISEI, mas pra alertar as pessoas certas. As pessoas que pensam, as pessoas que gostam do conflito, as pessoas que fazem a diferença, as pessoas que gostam de ser do contra, os que bradam, os que não aceitam.
Aqui ninguém aceita porra nenhuma.
Pode considerar o Subverso como uma linha de resistência. Se quiser comparar com a Resistência Francesa, pode ser: aqui tem uns gatos pingados, mal encarados, fumantes, armados (mas com poucas balas), nada profissionais, mas com algum estilo (tem um ali até de boina).
As armas são a dúvida, o ceticismo,a evidência e o escárnio (sempre bem-vindo, arma forte e perigosa: e não foi Aristófanes que matou Sócrates?)

Apresento o Subverso.
O verso que poucos conhecem.


“Precisa agora descobrir a ilusão e o arbitrário mesmo no fundo do que há de mais sagrado no mundo, a fim de conquistar depois de um rude combate o direito de se libertar deste laço; para exercer semelhante violência, é preciso ser leão.”
Assim Falava Zaratustra - Nietzsche